AUTOTRANSCENDÊNCIA: SUPERAÇÃO DO INDIVIDUALISMO

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Na atualidade nos deparamos com a realidade de uma sociedade voltada ao individualismo, cada um fazendo o que bem entende, situação que diminui o desejo do querer bem ao outro, pois o egoísmo acaba sendo tendencioso.

Conseguimos notar que a sociedade caminha para a vivência de relacionamentos superficiais, ou como podemos dizer, para a falta de reciprocidade entre as pessoas. Zygmunt Bauman, filósofo, sociólogo, professor e escritor polonês, chama essa mudança de comportamento de “modernidade líquida”, onde tudo escorre e nada permanece. A pós-modernidade encaminhou-se para uma fluidez do líquido, onde tudo se esvai, tudo é muito intenso, existem sempre barreiras e divisões, desfazendo assim crenças, valores, preceitos, conceitos, certezas e boas práticas.

Como percebemos, o conceito de “modernidade líquida” já se enraizou em nosso meio, estamos repletos de informações, porém vazios de sabedoria e do devido cuidado com o próximo, vivemos como máquinas em uma era de relações rasas, contatos rasos e de convivências virtuais. Essa transformação aumenta o individualismo e apaga a solidariedade.

Falamos somente de nós, esquecemos o outro, talvez esteja aí uma das maiores marcas dos valores líquidos. A autotranscendência, nesse caso, é um desafio constante, ela não é atitude de descanso mas de movimento, crescimento e trabalho em conjunto. O poder da autotranscendência funciona quando o exercício dela vai além da busca por si, quando conseguimos sair de nós, para olharmos o outro sem interesse.

A palavra transcendência, do latim transcendentia – qualidade de transcendente, se destina ao caráter do que ultrapassa os limites do que é considerado normal, logo a autotranscendência é a capacidade humana de ascender e ir além de si mesmo, o caminho para superação do individualismo.

Sabe-se que ninguém vive sozinho, então a ação da transcendência se faz ainda mais necessária nas relações pessoais. Quando identifico a autotranscendência como poder transformador, olho para ela como uma grande força, uma prática a ser vivida nos relacionamentos e na forma de como enxergamos a vida.

Assim, podemos dizer que uma das soluções para a realidade de uma sociedade líquida seria a prática do sair de si para o encontro outro, ou seja, o exercício da caridade. Para isso é necessário deixar muitas vezes de lado a nossa arrogância, autossuficiência, orgulho, vaidade e assim exercer a humildade e começar a praticar o amor de verdade, sem medo de se doar, pois o amor, cura, restaura, o amor é vida.

A finalidade aqui é trazer uma reflexão da eficácia que a autotranscendência tem em nossa vida, a partir do momento em que começamos a exercitá-la, e o quanto ela pode transformar o mundo.

São Francisco de Assis em sua famosa oração, sem conhecer o conceito sistematicamente, expressou da melhor forma o que é viver a prática da autotranscendência. Parafraseando o santo pedimos: “Senhor, fazei de nós instrumentos da vossa paz, onde houver ódio, que levemos o amor”. Vale a pena arriscar e praticar a autotranscendência. Que a exemplo de São Francisco nosso comportamento seja sempre transcendente.

Matheus Eduardo da Silva

Estudante de Filosofia e Seminarista da Diocese de Jales

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