Sistema econômico gera novas e modernas formas de escravidão, diz dom Reginaldo Andrietta

Com Maria nos libertamos de novas escravidões”, este é o tema da 33ª Romaria Diocesana de Jales (SP), que será realizada dia 20 de agosto para celebrar a festa de Nossa Senhora da Assunção, padroeira da Diocese. O bispo de Jales, dom Reginaldo Andrietta, diz que a Romaria dá continuidade à uma tradição de manifestação de fé que tem o sentido devocional de viver verdadeiramente os valores do Evangelho. E por isso, é importante interpretar como viver esses ensinamentos a partir da realidade atual.

“Nós temos um país com uma história de mais 500 anos, que já tem muito claro, que viveu expressões de escravidão que mostraram a degradação de valores numa sociedade que se construiu a partir do trabalho escravo”, afirma o bispo.

No Brasil, a escravidão foi extinta oficialmente em 13 de maio de 1888. Todavia, em 1995 o governo brasileiro admitiu a existência de condições de trabalho análogas à escravidão. Mas, a realidade no país ainda está longe de ser a de liberdade. Muitas pessoas, ainda trabalham de forma escrava e não é somente no meio rural, isso ocorre também nas áreas urbanas, nas cidades, porém em menor intensidade.

O trabalho escravo urbano é de outra natureza. A expressão escravidão moderna possui sentido metafórico, pois não se trata mais de compra ou venda de pessoas. Em geral, o termo é utilizado para designar aquelas relações de trabalho nas quais as pessoas são forçadas a exercer uma atividade contra sua vontade, sob ameaça, violência física e psicológica ou outras formas de intimidações.

A Igreja como instituição social tem papel importante na sociedade em promover fraternidade e justiça, em busca de vida digna para todos, sem distinção de cor, raça, credo, etc. Diante dessa realidade, a Diocese de Jales em união com os fieis clama por libertação das novas escravidões, realizando assim sua missão como igreja em saída e em busca do bem comum. Como atitude concreta organiza a 33ª Romaria Diocesana.

“Na tradição judaico cristã a libertação é um fundamento de nossa fé, Cristo é nosso libertador. Esse termo significa uma concretude histórica do que nós interpretamos como salvação, isso significa um processo de humanização”, destaca dom Reginaldo Andrietta.

O bispo acrescenta ainda que atualmente o Brasil está submetido a novas escravidões causadas sobretudo pelo atual sistema econômico, cujo centro é o dinheiro, não a pessoa humana.

“O processo que nós vivemos atualmente é um processo de retorno a livre negociação entre patrões e empregados que no fundo retorna as condições de negociação entre desiguais. E por isso, chamo atenção a questão da escravidão no mundo do trabalho que é justamente feita por causa disso. Uma negociação entre desiguais. Aqueles que estão fragilizados por estarem individualizados, não organizados, não apoiados suficientemente na vida sindical terão pouca chance de conquistar aquilo que tem direito. Aquele que tem o poder econômico vai determinar aquilo que é o seu interesse”.

Ainda segundo o dom Reginaldo, os brasileiros vivem uma certa submissão ideológica e, por isso, não conseguem se organizar como sociedade civil, não vivem ações comuns cidadãs, projetos comuns de sociedade estão dispersos e, de alguma maneira, o povo está desunido.

“Isso é um sinal que o grande poder seja político, econômico e ideológico vai se impondo. Por isso, nós vimemos sim determinadas condições de submissão a um poder que domina no qual, então, nós nos sentimos realmente não sujeitos”, finaliza o bispo.

A Romaria pretende despertar uma conivência provocando uma reorganização de grupos comunidades, iniciativas eclesiais e da sociedade civil. Nesse contexto, ela se torna muito além de uma manifestação de fé, de Igreja presente no social, oferecendo a sua contribuição para que a sociedade seja aquela que sinalize realmente a presença do Reino de Jesus.

Fonte de pesquisa: CAMARGO, Orson. “Trabalho escravo na atualidade”; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/sociologia/escravidao-nos-dias-de-hoje.htm>. Acesso em 01 de agosto de 2017.
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