A NÃO-VIOLÊNCIA ATIVA

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Muitos brasileiros estão estarrecidos diante da atual explosão de violência em presídios do país. As mortes horrorosas causadas por conflitos entre facções que disputam o poder, envolvendo inclusive o controle do tráfico de drogas, evidenciam uma vez mais o alto grau de complexidade do sistema prisional brasileiro e da sociedade no seu todo, afinal tal violência tem tudo a ver com a violência globalmente disseminada e institucionalizada.

O horror nas prisões se soma a tantas outras situações assombrosas que afetam principalmente setores vulneráveis da sociedade como jovens, pobres e negros. As cracolândias, por exemplo, espalhadas por muitos centros urbanos, revelam o estado de penúria de muitos jovens e pobres cujas mentes se devotam ao esforço de conseguir sempre mais drogas, presos numa armadilha da qual não saem sozinhos. Muitos terminam mortos por doenças ou assassinatos.

A violência aumentou drasticamente no Brasil nos últimos anos. De acordo com a Unicef, 86% de vítimas de homicídios têm entre 15 e 18 anos. Trata-se de um genocídio que atinge sobretudo jovens, pobres e negros. Os cerca de 620 mil presos no Brasil são em sua maioria também jovens, pobres e negros. Se muitos das novas gerações, dos pobres e dos afrodescendentes se deparam com tamanha condenação, nossa sociedade está, realmente, em um “buraco sem saída”.

Estamos imersos em uma tragédia social desde a qual se irrompe um clamor. Esse clamor brota dos próprios jovens. “A juventude quer viver, chega de extermínio de jovens!” Esse lema de uma Campanha da Pastoral da Juventude do Brasil, entre os anos 2008 e 2012, continua atual. Esse clamor brota igualmente dos pobres, tão recordados nas Sagradas Escrituras, e de uma grande parte da população afrodescendente, que já fez jus a uma Campanha da Fraternidade sob o lema “Eu ouvi o clamor do meu povo” (cf. Ex 3,7).

A violência estrutural de nossa sociedade foi, também, amplamente denunciada na Campanha da Fraternidade de 2013 sobre a juventude. A Jornada Mundial da Juventude daquele ano, no Brasil, foi oportuna para esse clamor dos jovens brasileiros ecoar internacionalmente, reivindicando políticas públicas nacionais e internacionais mais coerentes e eficazes. Naquela ocasião, o Papa Francisco se encontrou com jovens detentos, orando com eles em sinal de compaixão.

Movidos pela compaixão divina, temos o desafio de ser ativamente não-violentos em prol de uma sociedade realmente justa, como condição para “sairmos do buraco”. Se o sistema social no seu todo é violento, porque alimentar a violência, condenando os que antes de causarem vítimas foram vitimados? Se “Deus enviou o seu Filho ao mundo não para condená-lo, mas para salvá-lo” (Jo 3,17), cabe-nos também, atitudes diferenciadas, compassivas, não-violentas.

“Por vezes, entende-se a não-violência como rendição, negligência e passividade, mas, na realidade, não é isso”, disse o Papa Francisco em sua mensagem de início deste ano, enfatizando o exemplo de compaixão da Madre Teresa de Calcutá, Prêmio Nobel da Paz em 1979, canonizada em 2016.  Ela “fez ouvir a sua voz aos poderosos da terra, para que reconhecessem a sua culpa diante dos crimes da pobreza criada por eles mesmos». Inspiremo-nos em seu exemplo de não-violência ativa!

Jales, 18 de janeiro de 2017.

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